Seguidores

sexta-feira, 6 de março de 2009

Teresa de Jesus, Mestra de vida espiritual


Introdução

A vida de Santa Teresa de Ávila é encantadora aos olhos daqueles que demonstram um pouco de sensibilidade diante da beleza do relacionamento de Deus para com os seus filhos. Teresa é santa, mas antes de sê-lo, é “mulher”. Diferentemente das biografias que encontramos de inúmeros santos e santas, o caminho percorrido por Teresa de Ávila é algo que pode ser realizado por “mortais”. Ela não menospreza a sua humanidade, antes a exalta, colocando-a como auxílio para o encontro com o Amado, Jesus Cristo. Teresa de Jesus não nos passa a imagem de um ser angélico ou de uma criatura que oscila entre o imanente e o transcendente, mas é alguém que teve a sua vida contextualizada num período de profundas transformações, na Igreja e no mundo.
Assim, apresentamos, inicialmente, o contexto histórico e cultural em que nossa Santa viveu. Hegel já dizia que o homem é fruto de seu tempo. Por essa razão acenamos para os principais fatos e acontecimentos que marcaram o século XVI.
Nos próximos tópicos procuramos destacar alguns dados sobre a vida da Monja espanhola. Respectivamente, vendo um pouco da sua constituição familiar; a sua personalidade, a partir do testemunho de pessoas que deixaram relatos sobre sua vida. Posteriormente, acenamos, de modo muito superficial, para o itinerário vocacional da Doutora, que desembocou na reforma da Ordem da Virgem Maria do Monte Carmelo.
Ao realizar este trabalho, tomamos ainda mais consciência da beleza e da importância de Teresa de Ávila para a Igreja. Não tivemos a oportunidade de fazer maiores aprofundamentos. Mas, acreditamos que as poucas e resumidas linhas aqui traçadas narrarão brevemente o que foi a vida desta grande Mestre de vida espiritual. Teresa foi uma mulher que esteve a frente de seu tempo e não deixou que o machismo de uma época fosse empecilho para que a sua vocação se realizasse. Para nós não se fala em estudo da história da espiritualidade sem referência à Teresa de Ávila.
Juntamente com todas as pessoas de boa vontade dizemos com Teresa de Ahumada: “Me consumo de zelo pelo Senhor dos exércitos a quem sirvo” (1Rs 19,10).

1- Contextualização histórica

O século XVI é marcado por inúmeras transformações que assinalam o mundo de maneira decisiva. É tempo das grandes navegações, da descoberta do Novo Mundo, da expansão comercial, da Reforma Protestante e do Concílio de Trento. Esse período é tido como século do ouro, porque aconteceu aqui um espantoso florescimento vocacional, que levou homens e mulheres a uma opção radical pela doação ao Cristo na Igreja Católica. Contudo, há nomes importantes de leigos que se destacaram nas letras como Miguel de Cervantes e Camões, na Pintura Diogo Velásquez e Rafael Sânzio e muitos outros que se eternizaram pela brilhante inteligência e pela desenvoltura com que desenvolviam seus ofícios.
Entre os santos e sábios desde período da História, destacamos Inácio de Loyola, José de Calazans, Francisco Xavier, Francisco de Borja, João da Cruz, Pedro de Alcântara, João de Deus, Beato João de Ribera, Turíbio de Mongrovejo e Teresa de Ávila. Esta última brilha como um astro de luz própria no meio desta constelação. Entretanto, a razão do surgimento de tantos nomes importantes em uma única época se deva, talvez, ao momento especial vivido pela Igreja.
Não podemos, com isso, negar que a Igreja vivia profundas crises no seu interior. A vida de alguns papas era um curriculum de imoralidades e preocupações civis. Essas ações enterravam o papado num lamaçal de escândalos. Lembramos aqui a vida de Alexandre VI (1492-1503) que teve oito filhos com, no mínimo, três mulheres. O pontificado do seu sucessor, Júlio II (1503-1513) foi marcado por constantes lutas contra os franceses, que desejam se apoderar do norte da Itália. A sua preocupação voltava-se para os armamentos, as fronteiras e para as estratégias de guerra. Já Leão X (1513-1521) entrou para a História como o papa da arte. Foi ele o responsável pela construção da Basílica de São Pedro. E foi justamente esse grande empreendimento que desencadeou uma das mais profundas crises vividas na Igreja Católica, a Reforma Protestante
[1].
A construção da nova Basílica Italiana exigiu grandes somas de dinheiro vindas das populações, através do pagamento de indulgências. A idéia surgiu num momento decisivo para Lutero, uma vez que já se encontrava insatisfeito com algumas atitudes da Igreja na Alemanha. Este homem desafiou as leis eclesiais e uma nova maneira de organização religiosa surgiu de suas idéias. Propôs uma igreja independente da autoridade papal e da pesada hierarquia católica. Uma comunidade mais voltada para as Escrituras e com sua atenção votada para a pessoa de Jesus Cristo. A reforma foi provocada por fatores de ordem política, religiosa e econômica, tais como, a anarquia e a confusão em que a Igreja da Alemanha e da Itália se encontravam; as transformações econômicas da Europa que levaram a classe eclesiástica às especulações com o objetivo de aumentar seus bens materiais; os conflitos entre os soberanos e os papas; a influência do humanismo; os altos impostos eclesiásticos; a difusão da Bíblia e os choques ideológicos: o destino do homem no pensamento tomásico e agostiniano
[2]. A excomunhão proferida por Leão X contra o Monge alemão em 1520 nada significou diante das inúmeras transformações que a reforma começara a fazer pelo mundo.
Com o objetivo de conter o avanço protestante, a Igreja Católica lançou um movimento que recebeu o nome de Contra-Reforma, com o objetivo de eliminar os abusos existentes. Nesse tempo aconteceu o Concílio de Trento (1545-1563), convocado por Paulo III. Essa grande assembléia condenou o protestantismo e estabeleceu doutrina sobre a autoridade do papa, as indulgências, os sacramentos, definiu os deveres e obrigações dos bispos, regulou a formação do clero nos seminários, manteve o celibato sacerdotal, proibiu a intromissão de reis nos negócios eclesiástico, confirmou o caráter indissolúvel do casamento, o culto dos santos, a veneração das imagens e a crença no purgatório.
A inquisição também é fruto desse período. A sua criação teve por objetivo julgar as questões referentes à heresia, ao cisma, à magia e à poligamia. E a Companhia de Jesus, fundada em 1534 por Inácio de Loyola, desejava conter o avanço protestante na Europa, apoiando o papa na defesa da fé e dos costumes católicos.

2- Quem foi Teresa de Jesus?[3]

Agora que lançamos um breve olhar sobre o tempo em que viveu a Doutora de Ávila, queremos descrever, de maneira sucinta, a sua vida, os seus feitos e suas obras.
Teresa de Ahumada nasceu na cidade em Ávila no ano de 1515
[4]. Era filha do segundo matrimônio de Afonso Sanchez de Cepeda com Beatriz de Ahumada. Os filhos do primeiro casamento do Sr. Afonso foram João, Maria e Pedro. Do segundo nasceram: Fernando, Rodrigo, Teresa, Lourenço, Antônio, Pedro, Jerônimo, Agostinho e Joana.
Os pais de Teresa eram pessoas piedosas, caridosas que tiveram uma grande preocupação em educar os seus filhos de acordo com os ensinamentos da Igreja. Teresa exalta, em sua autobiografia, as muitas virtudes de seus progenitores, destacando a caridade do seu pai e as muitas qualidades de sua mãe.
Sua mãe faleceu ainda muito jovem (33 anos). Ela possuía uma vida marcada por constantes enfermidades. Na ocasião, Teresa contava aproximadamente com 13 anos e teve, nessa idade, uma forte experiência religiosa, na qual consagrou sua vida à Nossa Senhora, pedindo à Virgem Santa que lhe acolhesse como mãe naquele momento tão difícil pelo qual estava passando.
Teresa recebeu formação no Mosteiro de Nossa Sra. das Graças que era coordenado pelas religiosas de Santo Agostinho. Nesse tempo, ela diz ter recebido desastrosas influências de alguns primos irmãos que freqüentavam a sua casa. Chega a dizer que não havia aprendido nada da extrema “sensatez e virtude” de sua irmã mais velha (Maria de Cepeda), mas perdia-se em fúteis conversações e vaidades. Daí surge a decisão do pai de colocá-la como interna numa casa religiosa. Além do mais, com o casamento da irmã, não era “conveniente que ela ficasse sozinha em casa, sem mãe”, como ela mesma nos relata.
Foi no Convento Nossa Sra. das Graças que a jovem Teresa começou a encantar-se pela vida religiosa. Chega a afirmar que lá vivera momentos felizes no meio de pessoas boas, entre as quais era muito querida:
“Todas gostavam de mim, pois o Senhor me deu esta graça, de agradar a todos, onde quer que estivesse, e assim era muito querida. Eu sentia então grande aversão à idéia de me fazer monja. Contudo gostava de ver tão boas religiosas como eram as daquela casa, observantes, recolhidas e de grande honestidade”
[5].
Teresa mostra-se desde tenra idade uma jovem cheia de belos ideais e portadora de surpreendente liderança. Encontrava em um de seus irmãos, Rodrigo, o companheiro singular para as execuções dos planos que passavam pela sua cabeça. Desejou ser mártir, eremita e até fundar mosteiros e conventos, mas nenhuma dessas brincadeiras juvenis era realizada na solidão. Teresa sempre buscava companhia para suas aventuras, demonstrando, assim, uma sadia liderança sobre aqueles que possuíam reta intenção. Queria o bem das pessoas e da Igreja e usava, com muita facilidade, o seu dom cativante para envolver outros em seus planos que irradiavam amor.

3- Retrato de Teresa de Jesus

Santa Teresa de Jesus parece-nos ter sido uma mulher de surpreendente beleza, que respondia perfeitamente aos padrões estéticos da época. Além da formosura, ela era inteligente e não temia ter diálogo com nenhum teólogo por mais douto que fosse. Ao contrário, a Santa de Ávila gostava da companhia dos sábios, uma vez que homens ignorantes, mesmo sendo bem intencionados, não faziam bem às pessoas na orientação espiritual: “confessores pouco instruídos têm feito grande mal à minha alma”
[6].
Maria de São José nos traça um perfil de Teresa e apresenta-nos uma mulher inteligente e bela: “era uma santa de mediana estatura, antes grande que pequena. Em sua juventude teve fama de ser muito formosa e, inclusive, em idade mais avançada mostrava sê-lo. Seu rosto não era nada comum. Era extraordinário... Suas mãos, ainda que pequenas, eram lindas; no seu rosto, no lado esquerdo, havia três pintas”
[7] ... No livro da Vida relata-nos, ela própria, que na juventude possuía muitas vaidades. Gostava de cuidar das mãos, dos cabelos e de usar perfumes.
Ela conhecia seus dons e tinha consciência de ser quem realmente era. Não se perdia em gestos de falsa humildade, mas agradecia ao Senhor por tê-la amado e escolhido, mesmo mediante as inúmeras limitações que dizia possuir. Recordamos aqui a anedota muito difundida sobre Santa Teresa, ao contemplar o seu retrato pintado pelo Frei João das Misérias. Segundo o relato, Teresa teria dito que Deus o perdoaria por tê-la pintado feia e carrancuda.
Há relatos que afirmam também que a nossa Santa possuía surpreendente habilidade para executar trabalhos manuais. Padre Ribera fala dos seus belos bordados, representando cenas bíblicas. Aqui podemos enumerar dezenas de outras qualidades de Santa Teresa, baseando-nos em testemunhos de pessoas que conviveram diretamente com nossa Madre e de muitas coisas que ela própria narra em sua autobiografia, notamos que ela era uma exímia cozinheira e amazona ímpar, uma vez que percorreu a Espanha para fazer as fundações dos Mosteiros. Toda essa vida repleta de atividades era regada pela profunda oração e pelo encontro diário com o amor verdadeiro de sua vida, perto de quem todas as outras coisas foram relativizadas
[8]. Só Deus Basta.

4- A opção pela vida Monástica

Tendo completando o tempo formativo no Mosteiro onde se encontrava, Teresa de Ahumada sentiu o forte desejo de ser religiosa. Certamente algumas dúvidas rondavam sua mente. Entretanto não sentia motivação vocacional para ingressar na Congregação das Agostinianas. Segundo ela, “havia ali certas práticas de virtude que lhe pareciam exageradas”. Lembrou-se, então, de uma grande amiga, Joana Soares, que estava em um mosteiro, na mesma cidade de Ávila.
Mas nesse tempo, Teresa foi acometida de graves enfermidades. O regresso para a casa do pai foi inevitável. No caminho para sua casa, Teresa teve a oportunidade de encontrar com um tio paterno, Pedro de Cepeda, com quem desenvolveu longas e frutuosas conversas espirituais. Esse homem, segundo a sua sobrinha, era de considerável cultura religiosa e de grande devoção. Aí Teresa teve bons momentos de consolação e confirmou que a vida monástica seria o melhor caminho para ela. Adquiriu do seu tio o hábito de ler bons livros que pudessem edificá-la espiritualmente. É interessante lembrarmos que isso também era um costume de seus pais. Essas leituras lhe foram de grande valia para que depois se tornasse mestra de vida espiritual.
Depois da dita enfermidade, Santa Teresa decidiu comunicar ao seu pai o forte desejo de fazer-se religiosa. O carinho do Sr. Afonso era tanto que encontrou certa dificuldade para dele adquirir a autorização. Ele dizia que Teresa poderia fazê-lo após sua morte. Contudo, o fervor do coração de Teresa já não podia ser contido em seu peito:
... “naqueles dias eu estava determinada de tal modo a ser monja, que teria ido a qualquer mosteiro, se imaginasse nele servir melhor a Deus, ou se com isso, meu pai se contentasse. Já não dava a menor importância à minha própria comodidade”
[9].
Em todos esses acontecimentos foram percebidos por nossa Santa o amor e a misericórdia de Deus. Ela narra a presença do seu Amado em todos os momentos de sua vida, mesmo naqueles em que ela diz estar tão distraída e distante do seu Senhor.

5- O Mosteiro da Encarnação

A filha do Sr. Afonso ingressou aos vinte anos no Mosteiro da Encarnação de Ávila. Conseguira vencer as lutas interiores e a oposição paterna
[10]. Os primeiros anos de vida monacal foram ornados de consolações e deleites. Entretanto, aos poucos, Teresa foi percebendo que Encarnação era um mosteiro tíbio, onde a observância estava bastante relaxada. Lá ela passou aproximadamente vinte anos de sua vida. Mas a sua reta intenção e o seu ardente desejo de servir a Deus fizeram que a Monja de Ávila desejasse que as suas irmãs procurassem a configuração evangélica e o espírito orante dos santos da ordem da venerável Rainha do Monte Carmelo. Teresa estava feliz por ser monja, esposa de Jesus Cristo, mas sentia-se insatisfeita pelos acontecimentos do Mosteiro. As irmãs geralmente dedicavam-se à longas conversas com pessoas que se dirigiam à Encarnação simplesmente para terem momentos de gozo e de distração. Além do mais, a desigualdade em que as monjas viviam era escandalizadora. Algumas possuíam celas confortáveis e contavam, inclusive, com regalias diversas como cozinha própria e até presença de empregadas e damas de companhia. Tudo isso acontecia enquanto outras religiosas sofriam as mais básicas necessidades, faltando até o alimento diário.
Esses fatos somados a tantos outros não podiam passar despercebidos aos olhos de Teresa, uma mulher inteligente, sensível e preocupada não somente com os seus próprios interesses. Apesar das inúmeras enfermidades que vivera depois de abraçar a vida religiosa, Teresa de Jesus, sentiu em seu coração marcado pela dor das doenças a necessidade de reformar o Carmelo.
As doenças que Teresa sofreu no Mosteiro da Encarnação foram tão grandes que chegou a ser proclamada sua morte. A situação era demasiadamente delicada que uma sepultura fôra aberta para receber o corpo da jovem monja de Ávila. Mal sabiam os que viveram aqueles tempos, que Teresa teria um longo caminho pela frente:
“Passados os quatro dias em que parecia morta, fiquei em tal estado, que o só o Senhor sabe os indizíveis tormentos que sentia (...) fiquei encolhida, como que enovelada. Parecia morta incapaz de mover os braços, pés, mãos e cabeça. Minha pressa de voltar ao meu mosteiro era tão grande que mesmo nesse estado fui transportada para lá. A que esperavam morta, receberam viva, mas o corpo em condições piores que da morte. Fazia pena vê-lo. Só tinha ossos. Assim fiquei mais de oito meses. Embora obtivesse melhoras, fiquei paralítica por quase três anos. Louvei a Deus quando comecei a andar de gatinhas”
[11].
Com a gravidade de suas doenças e com tormentos constantes, Teresa não encontrou panacéia que lhe aliviasse tanto sofrimento. Diz a Santa que não obtendo solução nos médicos da terra, passou a recorrer aos médicos do céu. Aqui surgiu a solidificada devoção que Santa Teresa sempre conservou em São José. Ela afirma que o Esposo de Maria atendeu aos seus rogos e, inclusive, recomenda a sua devoção. Teresa não recordava de ter pedido alguma graça a São José que não lhe houvesse sido concedida.
6- A reforma do Carmelo
Santa Teresa possuia no Mosteiro de Ávila muitas monjas que lhe eram estimadas de modo ímpar. Algumas delas foram amigas de infância ou eram parentes próximos da nossa Santa. Elas se reuniam como facilidade na espaçosa cela de Teresa, para discutirem coisas espirituais, pois concordavam com as idéias de que a observância monacal do mosteiro da Encarnação devia ser mais austera. O desejo da Carmelita de Ávila e de suas companheiras era uma purificação da regra para que ela pudesse voltar ao seu rigor primitivo. Entretanto, tal idéia ainda não estava bem elaborada no coração daquelas carmelitas. A grande reforma do Carmelo despontava como um pequeno sinal de uma grande montanha que surge lentamente diante dos nossos olhos.
As conversas sobre uma possível fundação foram levadas a sério por Teresa quando a vontade de Deus foi-se revelando favorável. Até então, tudo parecia um sonho ou uma brincadeira de amigas que ocupam o tempo com planos irrealizáveis para o futuro. Teresa pediu a Deus que lhe mostrasse um sinal de sua vontade e ela o teve, através de um senhora leiga, Dona Guiomar, que aspirava à fundação de monjas em suas terras, juntamente com São Pedro de Alcântara. Mas houve vozes interiores que indicavam à Monja de Ávila que a direção era aquela surgida em sua cela no Mosteiro da Encarnação: fundar um mosteiro que seguisse a regra primitiva dos carmelitas. Com tudo isso, Santa Teresa sentia aproximar-se de si grandes desassossegos e trabalhos exorbitantes.
Todos esses pensamentos e os momentos de oração foram colocados para o seu orientador espiritual. Ele se opôs às idéias da Madre, pensamento que o seu desejo era envolver-lhe nesta fundação. Um apoio foi encontrado em Pedro de Alcântara que a motivou a não desistir de seus propósitos e Dona Guiomar
[12] que teve a coragem de apresentar a idéia da nova fundação como sua ao padre provincial. Aqui os caminhos começaram abrir.
Entre as conversas desenvolvidas por Teresa com homens bem instruídos, o tempo ia mostrando a forte oposição encontrada por Teresa para realizar a nova fundação. A notícia veio como um abalo sísmico para muitas monjas da Encarnação. Muitas delas zombavam do pensamento de Teresa. As piadinhas, além de maliciosas, eram muitas. Entretanto, quase todos ignoravam que Teresa tinha a seu favor Aquele contra quem ninguém ou nada pode combater.
As dificuldades e perseguições foram muitas, mas em 1562, a autorização para fundar um novo mosteiro em Ávila chegou de Roma. Frei Pedro de Alcântara havia muito contribuído para que as resoluções romanas dessem independência à reforma, livrando as monjas das perseguições dos carmelitas que receberam o nome de calçados após a reforma do século XVI. A fundação ocorreu e o primeiro Mosteiro, em Ávila, foi confiado ao patrocínio de do Glorioso São José.
A vida dessa comunidade era de extrema pobreza. A observância era muito rigorosa e a espiritualidade, intensa. Santa Teresa punha-se no meio das irmãs como uma verdadeira mãe, preocupada com as monjas, com a vida da nova fundação e, principalmente, com o serviço a Jesus Cristo. O Mosteiro São José representou simplesmente o inicio de uma nova era na vida monacal espanhola que se irradiou pelo mundo inteiro. Mosteiros salpicavam pelas províncias da Espanha e uma compreensão religiosa diferente opunha-se dentro da Igreja Católica aos reformadores protestantes que procuravam adquirir o seu espaço.
Madre Teresa viveu perseguida e chegou a pagar um preço alto por causa da nova fundação. Foi olhada com desconfiança pela própria Igreja que sentiu nela ares diferentes dos notados nas mulheres de seu tempo. Será que Teresa pareceu-lhes uma bruxa? Mas, na verdade, sabemos que Teresa de Jesus foi alguém que antecipou tempos vindouros, porque ela sabia olhar além do presente; ela foi uma mulher que trabalhou pela Igreja mais que muitos homens e os recursos que possuía, como a escrita, por exemplo, colocavam-na num patamar superior.
A inquisição viu em Teresa de Ahumada algo de extraordinário, mas eles nada inventaram porque ela realmente é uma mulher extraordinária. Santa Teresa era mais que uma monja, mais que uma cidadã de Ávila. Como ela mesma se intitula no Livro da Vida, é esposa de Jesus Cristo por quem teve o seu coração arrebatado desde tenra idade.


Conclusão

Santa Teresa de Jesus é uma mulher que ousou caminhar mais longe e partir e em busca dos seus ideais. O tempo em que viveu não foi capaz de contê-la e as muralhas de uma sociedade machista foram, aos poucos, permitindo que a monja de Ávila tomasse as rédeas de uma situação. E ela bem soube conduzir aquilo que teve oportunidade de comandar.
Ela foi proclamada Magistra Spiritualium, como está gravado numa imagem a ela dedicada na Basílica de São Pedro em Roma. O Papa Paulo VI afirmou na proclamação do doutorado de Santa Teresa: “não duvido que falava o Espírito Santo nela em muitos dos seus escritos e que lhe conduzia a pena na mão”. Não restam dúvidas que os escritos da Madre Teresa são uma inesgotável fonte de sabedoria e espiritualidade que desperta o interesse daqueles que se encontram, inclusive, fora do pensamento cristão. Ela é admirada e estudada por literatos e psicólogos que buscam em suas obras um precioso lugar para suas pesquisas.
Teresa deixou muitos escritos de uma atualidade impressionante. São eles: Libro de la vida, Camino de perfección, Castillo Interior o Las Moradas, Libro de Las Fundaciones, Constituciones, Modo de Visitar Los Conventos, Vejamen, Poesías, Epistolario. Estas obras tiveram um alcance longe e influenciaram a vida mística não só dos membros da Ordem do Carmo. O próximo Santo Afonso de Ligório diz o quanto foi importante para sua vida o contato com os escritos de Santa Teresa.
Dito isto, concluímos que Santa Teresa de Jesus foi alguém que deu passos largos para vencer o Sexus obstat. A sua atuação na Espanha foi pioneira no alvorecer da presença feminina nos diversos seguimentos de uma sociedade excludente. Ela venceu barreiras enormes sem perder o bom humor.
Neste período em que vivemos, a Santa de Ávila aponta caminhos para a vida eclesial. A Igreja hoje, como no século XVI, vive momentos muito delicados e, por isso, precisa de homens e mulheres capazes de renovar o cristianismo, fazendo-o voltar às suas origens.
Ao terminar esta pesquisa afirmo que para mim é um verdadeira honra olhar um pouco mais para a vida daquela de que admiro. Teresa é modelo de vida no seguimento de Jesus e para mim, de modo muito particular, é quem mostra o caminho que deve ser percorrido para que se possa dar o encontro com o Senhor na sétima morada. Assim, junto minha voz à de Teresa para dizer ao mundo:“Misericordia Domini ab aeterno cantabo”.


Bibliografia

CASTRO, E. S.. El Magisterio Espiritual de Santa Teresa. 2 ed. Entidades Hispanobrasileñas de Rio de Janeiro: RJ. 1982
Comisión Romana para las fiestas del doctorado Teresiano. Teresa de Jesús: doctora de la Iglesia. Roma. 1970.
LA MADRE DE DEUS, Efren e STENGGINK, Otger. Tiempo y vida de Santa Teresa. Madrid: BAC. 1978.
MATOS, Henrique C. J.. Introdução à História da Igreja. 5 ed. Vol.I. Belo Horizonte: O Lutador. 1997.
SOUSA, Osvaldo Rodrigues de. História Geral. 16 ed. São Paulo: Ática. 1977.
TERESA DE JESUS, Santa. Livro da Vida. 2 ed. São Paulo: Paulinas. 1986.
TERESA DE JESUS, Santa. Obras Completas. Estudio preliminar y notas explicativas por Luis Santullano. Madrid: Aguilar. 1951.
[1] MATOS, H.C. J.. Introdução à História da Igreja. Belo Horizonte: O Lutador. 1997, pp. 329-330.
[2] SOUSA, O. R.. História Geral. 16 ed. São Paulo: Ática. 1977, p. 215.
[3] TERESA DE JESUS, Santa. Livro da Vida. 2 ed. São Paulo: Paulinas. 1986, pp. 11-31.
[4] CASTRO, E. S.. El Magisterio Espiritual de Santa Teresa. 2 ed. 1982, p. 03.
[5] TERESA. Livro da Vida, p. 19.
[6] TERESA. Livro da Vida, p. 33.
[7] TERESA DE JESUS, Santa. Obras Completas. Madrid: Aguilar. 1951, p. 16.
[8] TERESA. Obras Completas, p. 21.
[9] TERESA. Livro da Vida, p. 33.
[10] CASTRO. El Magisterio Espiritual de Santa Teresa, p. 04
[11] TERESA. Livro da Vida, p. 39.
[12] Esta senhora era portadora de grande reputação entre os religiosos da época, uma vez que era mãe de muitas monjas do Mosteiro da Encarnação.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ditos Populares falados da Maneira correta

No popular se diz:
'Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho carpinteiro' Correto: 'Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho no corpo inteiro'

Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão.'
Enquanto o correto é:
' Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão.'
'Cor de burro quando foge.'
O correto é: 'Corro de burro quando foge!'
'Quem tem boca vai a Roma.'
O correto é: 'Quem tem boca vaia Roma.' (isso mesmo, do verbo vaiar).

'Cuspido e escarrado' - quando alguém quer dizer que é muito parecido com outra pessoa.
correto é: 'Esculpido em Carrara.' ( Carrara é um tipo de mármore)

'Quem não tem cão, caça com gato.'
O correto é: 'Quem não tem cão, caça como gato... ou seja, sozinho!'

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sacerdotes nascidos em Barão de Cocais

Pesquisei nos arquivos da Cúria Metropolitana de Mariana e encontrei um catálogo de todos os sacerdotes da Arquidiocese. Fiz uma relação entre os mais antigos; alguns deles estudaram no Rio de Janeiro, porque Mariana ainda não era sede de bispado. É bom lembrar que Barão de Cocais não era cidade, mas distrito de Sant Bárbara, chamado Morro Grande.
Segue, portanto, o nome e o ano de ordenação:
1- Manoel Alves Gomes – 1752
2- Antônio Álvaro de Brito – 1755
3- Antônio Furtado Leite – 1758
4- José Gomes da Silva – 1762
5- Antônio Machado Jaquer – 1766
6- Gregório Coelho de Morais Castro – 1787
7- José Joaquim dos Santos – 1772
8- José Pereira Santa Maria – 1774
9- Manoel de Araújo F. Quintão – 1784
10- Manoel Coelho de Santiago – 1794
11- Antônio de Almeida Carvalho – 1803
12- Antônio Carrilho Caldeira – 1844
13- Antônio Martins Oliveira – 1817
14- Manoel Antônio da Silva – 1818
15- Manoel Pereira Machado – 1813
16- Rafael Dias Rosales – 1815
17- Torquatro Sebastião do Nascimento – 1830
18- Vicente Aleixo de Oliveira – 1803
19- Joaquim José de Rezende – 1940
20- Modesto Paiva – 1922
21- Miguel Arcanjo Vital – 1966
22- Jesuíno Soares da Cunha – 1905
23- Antônio Isidoro da Silva Diniz – 1796
24- Antônio Tavares Barroso – 1759.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Data da fundação da Arquidiocese de Mariana


A Diocese de Mariana foi fundada em 1745 pelo Papa Bento XIV, através do Moto Próprio Candor lucis aeternae, de 06 de dezembro do ano acima citado. Seu primeiro prelado foi um português da ordem dos Frades Cirstercieneses, chamado Frei Manoel da Cruz. Até o referido ano, o Brasil contata com apenas cinco dioceses, a saber: Bahia (1555), São Sebastião do Rio de Janeiro (1676), Olinda (1676), Maranhão (1677) e Pará (1719). Mariana foi erigida como diocese juntamente com São Paulo e as prelazias de Goiás e Cuiabá.

Ditos Populares das Minas Gerais

Sempre achei muito interessantes estes ditos da sabedoria popular. Alguns deles tive o cuidado de registrar e aqui partilho com vocês...


1- A gente tem que medir a água e o fubá
2- ... é mais velho que a serra do Caraça. (Barão de Cocais, Santa Bárbara)
3- ... é mais velho que a Sé de Mariana
4- Vamos devagar com o andor que o santo é de barro
5- As paredes têm ouvidos
6- Não se deve tirar a roupa de um santo para vestir outro
7- Mineiro não amarra boi com embira
8- Mineiro não perde o trem
9- Mineiro bobo nasce morto
10- Ele bateu na cangalha pro burro entender
11- Quem fala demais dá bom dia a cavalo
12- Vai procurar a rodilha onde quebrou o pote
13- Nem tudo que reluz é ouro
14- Fumar e fácil, difícil é lamber a palha
15- Quando a gente aperta a capivara ela sobe pros barrancos
16- Não procure chifre na cabeça de cavalo
17- Quem não aquenta patuá não arruma mandinga

Quem foi o Barão de Cocais?

José Feliciano Pinto Coelho da Cunha (O Barão de Cocais) - nasceu em 1802 na Fazenda da cachoeira, dois quilômetros da vila colonial de Cocais, fundada pelos seus ancestrais maternos. Filho do brigadeiro Antônio Caetano Pinto Coelho da Cunha, foi enviado pelos pais para estudar no Rio de Janeiro, onde acabou ingressando no Exército Imperial, alcançando a patente de Tenente Coronel. Obteve sólida educação palaciana, chegando a ser camareiro da família imperial e, como fidalgo, recebeu o título de Cavaleiro e Comendador da Ordem Imperial de Cristo. Em 1819, casa-se por procuração com Anthonia Thomasia de Figueiredo Neves na capela de Santa Quitéria, em Catas Altas do Mato Dentro. Do enlace matrimonial teve cinco filhos, nascidos na sua residência da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Em 1822, participa do movimento da Independência do Brasil e, em 1830, elege-se Deputado Geral do Império, em sucessivas legislaturas até 1848. Em 1833, torna-se empresário ao fundar a Companhia de Mineração Brasileira da Serra de Cocais, em associação com os ingleses da National Mining Co., sediada em Cocais. O regente Feijó, em 1835, nomeia-o governador da Província de Minas Gerais e em 1840, vota a maioridade de D. Pedro II. Em 1842, é aclamado governador interino de Minas Gerais, em Barbacena, aceitando ser Comandante-Chefe da Revolução Liberal de Minas, ao lado de Teófilo Otoni Limpo Abreu, Cônego Marinho e outros. Como estrategista militar, vence todas as batalhas, mas resolve recuar no quartel-general de Santa Luzia, para atender o pedido de pacificação do Duque de Caixas, que o visita na Vila de Cocais. Cassados os seus direitos políticos, dois anos depois e anistiado, e reelege-se Deputado Geral de 1844 a 1848. Devido a sua lealdade à Coroa Brasileira, D. Pedro II resolve titulá-lo Barão, com grandeza em 1855. O venerando político e empresário, no final da vida foi acometido de tuberculose, vindo a falecer no dia 9 de julho de 1869, sendo sepultado no interior da Igreja de Santana, em Cocais.

TOM DE MINAS


A estrada que me leva é Real
O destino que me espera também.
Cumpro a sina de carregar sobre os ombros
o peso das palavras que aliviam o mundo.
Tal qual herói que estabelece uma cruzada
Para recuperar o antigo valor sacramental
Sigo a seguir em conclusões das rotas
Insistindo em retirar a vida da mina do tempo
E descobrindo a arte de reconciliar os contrários
Porque em Minas, o sagrado não se opõe ao profano
Mas perpassa-o, transforma-o e plenifica-o.
Nos cantos das lavadeiras
o Magnificat proferido pela Virgem Maria se atualiza
E nas cordas das violas apaixonadas
Deus dedilha os seus acordes eternizados.
Em Minas tudo é dom, tudo tem tom e tudo nos fala de amor.
No mínimo de Minas há o máximo de Brasil. Adélia Prado